Assisti ontem à estreia de Miss Daisy no auditório Eunice Muñoz em Oeiras.
“Driving Miss Daisy” estreou em Nova Iorque em 1987 e esteve três anos em cena, ganhando o prémio pulitzer de 88. Em 989 é feita a adaptação ao cinema pelo próprio autor – Alfred Uhry. Valeu-lhe o Oscar da “melhor adaptação”.
A tradução feita para Eunice Muñoz, Guilherme Filipe e Thiago Justino, é da responsabilidade de António Barahona. Com a minha escassa cultura, não o conhecia. Fiquei a saber que é poeta.
Não pretendo fazer aqui uma crítica ao espectáculo, aos actores, ao encenador ou aos técnicos. A um crítico, julgo eu, cabe “meter-se” dentro do criticado e tentar perceber porque escolheu ele fazer assim. Só o poderá fazer se conhecer a técnica utilizada na produção da obra. Estou a falar do crítico e não de quem opina. Acho muito bem que se opine, e que se critique.
Posso fazer uma crítica ao público, eu estava metida na plateia.
O público é parte de um espectáculo. Aquele público ontem era de estreia, ou seja, convites e muita gente do meio (fui com o meu irmão actor). Esperava eu que acompanhassem as tensões e descontracções do texto, os sentidos de humor claros e escuros; as modificações nas frases, que repetidas ao longo dos vinte e cinco anos em que decorre a acção, deixam de ter o sabor da ironia incisiva e graduam até ao hábito envelhecido, enriquecido.
As gargalhadas do público não graduaram; não sei porque escolheram rir assim.
Nunca tinha visto a Eunice Muñoz ao vivo. O seu gesto é extraordinário e oportuno. Os pés, as mãos, dizem as falas. Se as perde por vezes, é só na voz; o seu corpo mostra que não se perdeu.
O seu sorriso no fim mostrou o que todos ganhámos.
[Sempre que releio o que escrevo encontro “novas interpretações”; não faz sentido apagar o que escrevo, ou modificar de cada vez que cá venho. Ao ler isto, pareceu-me que estava a fazer uma critica velada ao texto da peça, e sendo assim, a armar-me em espertinha. Como se conhecesse a técnica utilizada na elaboração daquele, ou de outros textos. Não conheço. A fazer fé na Maria: “quem escreve escreve-se”, devo ter pretensões à esperteza.]
1 comment:
;)
Credo! Pretensões à esperteza devem ser uma chatice! :)
Mas é verdade. Creio mesmo que quem escreve se escreve e quem escreve mesmo aquilo que só lhe passa pela ponta dos dedos naquele instante, lá mais por dentro, há-de ter um fundo de si! Nem que seja ao contrário de quem é ou do que lêem naquilo que de si diz... ou esconde! ;)
"A um crítico, julgo eu, cabe «meter-se» dentro do criticado e tentar perceber porque escolheu ele fazer assim."
Ora! Não podia estar mais de acordo! Cá está...
[Bom voltar a ir dormir cada vez mais tarde, outra vez, para fazer o que tem de ser feito e vir ganhar inspiração a lugares que nos enchem o peito, na rede!
Valeu, dgp!!]
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