Sunday, October 08, 2006

Estou sem internet. Vá lá saber-se porquê, não gosto de escrever num computador que tem ao lado outros quinze, atrás outros tantos. Escrevo numa biblioteca.

Nestas duas últimas semanas transformei-me em formiga de biblioteca; passo as horas que posso lendo e escrevendo.

Leio muito. Na verdade irrita-me esta dificuldade que tenho em entender o possível na escrita. Semiótica, filosofia da linguagem, prosódia, signos e grafos, ícones, símbolos, significados, proposições e inferências, falácias lógicas.

Neste momento leio Blanchot, mas já passei por, Peirce, Eco; Derrida, Foucault que fica sempre bem e até rimou.

Blanchot e o movimento incessante da escrita. "...comme si écrire, le mouvement incessant d'écrire, nous libérait du jeu de l'écriture."

Seria um exercício interessante fazer um paralelo entre os jogos da linguagem e a "moderna" teoria dos jogos.

Em "investigações filosóficas" WIttgenstein diz-nos que o significado das palavras é independente daquilo a que se referem. O significado depende de como são usadas. A linguagem é um tipo de jogo em que as palavras são as peças de um conjunto de regras ( convenções linguísticas)

A teoria dos jogos estuda decisões que são tomadas por vários jogadores que interagem entre si num determinado meio. A estratégia na escolha de comportamentos depende da escolha de outros indivíduos. Não será completamente inverosímil considerar cada palavra como indivíduo, individual e em crescimento; no entanto atribuir decisão ou escolha de comportamento à palavra é, do meu ponto de vista, disparatado. A palavra cresce em significados, tem comportamento diferenciado quando interage com outra ou outras palavras, mas não escolhe. Quem escolhe é quem fala ou escreve.

Em princípio a linguagem das palavras deveria centrar-se no jogo cooperativo. A solução cooperativa é aquela que permite encontrar o par de ganhos que garanta a cada uma das partes ao menos aquilo que poderia assegurar jogando sozinhos. Mesmo falando para o boneco se pode assegurar ao menos aquilo que ganhamos a falar sozinhos. A não ser que afinal o boneco afinal ouça. Provavelmente ouvirá não o que foi dito, mas sim o que ouviu. Ganha-se alguma coisa ouvindo o que não foi dito? Parece que sim. Perde-se com as palavras? Provavelmente, que isto está tão confuso que até eu dou o dito por ouvido.

A que tipos de jogos se referia Wittgenstein?

Há os simétricos e os assimétricos, os de soma zero e os de soma diferente de zero, os simultâneos e os sequenciais, os de informação perfeita e os de informação imperfeita, os infinitamente longos.

E já agora

- Imagine um diálogo entre o Capitão gancho e o Peter Pan; quais seriam os tipos de jogo adoptados? Riscar o que não interessa (o infinitamente longo por não ter par é verdadeiro por defeito)

- Quais os aspectos paradoxais que atestam a ambiguidade da opinião pública?

- Porque é que quanto mais escrevo mais sarcástica me torno?

"...comme si écrire,le mouvement incessant d'écrire, nous libérait du jeu de l'écriture."

Blanchot e o movimento incessante como estratégia de libertação do próprio jogo.

" Par le livre, l'inquiétude d'écrire - l'énergie - cherche à se reposer dans la faveur de l'ouevre, mais l'absense d'ouevre l'appelle toujours dès l'abord à répondre au détour du dehors, lá où ce qui s'affirme ne trouve plus sa mesure dans un rapport d'unité"

(L'entretien infini)

1 comment:

Vicente de Oliveira said...

"- Porque é que quanto mais escrevo mais sarcástica me torno?"

"El sarcasmo es una forma de cortesía ya que si la crítica fuese directa, dolería más."

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