"Se este fosse o momento de aprofundar algum assunto, eu sustentaria, talvez contra a vossa unânime opinião, que a melodia não é o que mais defende Chopin da acção do tempo.
Eu pensava que era a melodia. Mas não - agora não penso assim. Creio que a música de Chopin sobrevive incólume apesar das belíssimas melodias. Sobrevive pela sua formosura, que é palavra vinda de forma e aqui quero que signifique perfeitíssima harmonia formal (...)
A análise técnica minuciosa de uma página de Chopin pode em geral fazer-se com a décima parte das palavras necessárias para uma de Bach, ou de Mozart, ou de Beethoven.
Mas se, em vez de Bach, Mozart ou Beethoven, o termo de comparação fosse Schubert? A conclusão seria outra, não lhe parece?
- Evidentemente. Por isso tenho tido o cuidado de evitar alusões ao Schubert
Em todo o caso, não nos iludamos com a simplicidade de Schubert ou de Chopin. A simplicidade de um artista é sempre complicadíssima (...)
- Sim. Mas já pensou no que será o futuro de Chopin, se a música evoluir no sentido do cerebralismo total? Os duzentos anos do nascimento, os trezentos, os quinhentos, serão comemorados com tamanhos ecos em todo o Mundo? Continuará toda a gente a sentir as suas melodias, a intuir a sua maravilhosa perfeição na forma, como até hoje?"
João de Freitas Branco. Chopin - Um Improviso em Forma de Diálogo
2 comments:
Felizmente a música não evoluiu no sentido do referido 'cerebralismo total', por isso continuaremos a celebrar, e sobretudo a ouvir, Chopin.
CV
Felizmente, sim; enquanto houver ouvidos:)
Post a Comment