Aí vem mais um Natal. Este parece-me poesia, servida fria.
Quente foi o que Olga Prats serviu num intervalo de três séculos e meio, transposto a piano aumentado. (O som é movimento material, transporta energia)
Parabéns Olga pela carreira que a fez tão grande.
Lembro-me que a Olga Prats levou, ou deixou que levassem, o seu piano à casa onde vivi, a dos mil colchões. Levou-o mais de uma vez, e de cada uma dessas vezes tocou no hall para seiscentas crianças que mal conheciam o mar. Eu, que ali vivia todo o ano, o que mais me empolgava era a chegada do piano. Vê-lo com as pernas no ar, adivinhar qual delas tocaria primeiro o chão, que som produziria. Do repertório, não me lembro; sei que não eram as canções do livro da Raquel Simões, que eu aprendia na escola primária.
Os seiscentos meninos sossegavam encantados. (Gostava que pudessem imaginar a reverberação do hall, e o eco). O som subia às camaratas, atravessava-as e voltava ainda cheio. Mas mais cheio que tudo isso, era a gargalhada da Olga.
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