Edgar Allan Poe. Um Homem na Lua
“ O que mais me assombrou no aspecto das coisas situadas por baixo de mim foi a aparente concavidade da superfície do globo. Eu esperava estupidamente que a sua convexidade real se manifestaria cada vez mais à medida que a altura aumentasse. No entanto, alguns segundos de reflexão bastaram-me para compreender este contra-senso.
Uma linha traçada perpendicularmente do ponto em que eu me encontrava até à Terra formaria a perpendicular de um triângulo rectângulo cuja base se estendia em ângulo recto até ao horizonte, e a hipotenusa, do horizonte até ao ponto ocupado pelo meu balão. Mas a altura em que eu estava nada significava comparativamente à extensão abarcada pela minha vista. Noutros termos: a base e a hipotenusa do suposto triângulo eram tão longas em relação à perpendicular que podiam considerar-se como duas linhas quase paralelas.
(…)
Daqui a impressão de concavidade; e esta impressão teria de durar até que a altura se encontrasse, relativamente à extensão da perspectiva, numa proporção igual, isto é, até que o aparente paralelismo da base e da hipotenusa desaparecessem.
Entretanto, como as pombas pareciam sofrer horrivelmente, resolvi pô-las em liberdade”
Eugénio de Andrade. Limiar dos Pássaros
“Desta cal de homem rompe a lua
de sol extenuada
ergue-se de gume em gume e cai
no espelho a prumo das espadas”
Rente à Fala
"Ver chegar o dia mesmo que fosse a noite
era bom tão cedo ver a terra limpa
os pombos bravos o peito cor de vinho
o cheiro doce dos figos o brilho duro
da cal trazido pelo vento o marinheiro”
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