Saturday, December 22, 2007

O verbo fez-se carne filho único de deus, para dizer "palavras de espírito e de vida". Onde há homens há palavras, onde há deus há verbo.
As outras coisas, não se importam. À nuvem podemos chamar-lhe carta ou canoa. Ao rio, rua do nilo. Rei ao sol, lua à lagoa, caravela à planta do mar. Epifania ao vento ou qualquer outro lugar. As coisas não se fizeram palavras.

(...)
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
Natal à Beira-Rio. David Mourão-Ferreira

O Clavis David. À nuvem podemos chamar-lhe epifania, menino mitra, luz poesia, lagoa ou mar ou qualquer outro lugar.

Monday, December 10, 2007

Aí vem mais um Natal. Este parece-me poesia, servida fria.

Quente foi o que Olga Prats serviu num intervalo de três séculos e meio, transposto a piano aumentado. (O som é movimento material, transporta energia)
Parabéns Olga pela carreira que a fez tão grande.
Lembro-me que a Olga Prats levou, ou deixou que levassem, o seu piano à casa onde vivi, a dos mil colchões. Levou-o mais de uma vez, e de cada uma dessas vezes tocou no hall para seiscentas crianças que mal conheciam o mar. Eu, que ali vivia todo o ano, o que mais me empolgava era a chegada do piano. Vê-lo com as pernas no ar, adivinhar qual delas tocaria primeiro o chão, que som produziria. Do repertório, não me lembro; sei que não eram as canções do livro da Raquel Simões, que eu aprendia na escola primária.
Os seiscentos meninos sossegavam encantados. (Gostava que pudessem imaginar a reverberação do hall, e o eco). O som subia às camaratas, atravessava-as e voltava ainda cheio. Mas mais cheio que tudo isso, era a gargalhada da Olga.

Monday, December 03, 2007

Já tinha até data de estreia apontada, mas não houve confirmação; houve outra proposta que não foi aceite pelo co-autor.
Não impinjo a sinopse, lá se vai a minha oportunidade de vaidade. Incorreria na possibilidade de plagiar o co-autor, quem fez a encomenda.
Fiquei a saber que não sou a autora do que escrevi. Passei na SPA (sociedade portuguesa de autores) e quem me atendeu disse que para eles o autor é quem tem a ideia. Não achei graça; até porque lá não se registam ideias. Fez-se-me luz. Inspiram-se na criação divina!
- "Então Deus disse: «Que a luz exista!» E a luz começou a existir. (...) Depois Deus disse: «Que exista um firmamento entre as águas para as separar umas das outras» (...) E assim aconteceu (...) [etecéteras] (...) E Deus achou que tudo aquilo que tinha feito era muito bom (...) Esta é a história da criação...
Aprendi que escrever por encomenda uma ideia, é para cobrar antecipadamente, à linha, ao metro, litro, metro por segundo por segundo.