Tuesday, September 18, 2012

Saturday, September 15, 2012




«E farei um rápido quadro da nossa visão do futuro... 
Anuncia o que vês...
«Vejo: a extensão monstruosa das potências do dinheiro; todas as mais legítimas reivindicações esmagadas e mantidas sob a sua tirania...
«Vejo a comoção da massa laboriosa, cujo crescente tumultuo não é senão mal dissimulado por esta parada ruidosa dos partidos políticos, que, até aqui, conseguiu só captar a atenção...
«Vejo o avanço regular duma maioria humana, brutal, inculta, embriagada de ilusões, esfomeada de segurança e de felicidade material, contra uma minoria cega, poderosa ainda pela força das coisas estabelecidas, mas cuja relativa estabilidade não repousa, de facto, senão sobre o regime capitalista.

O drama de João Barois. Roger Martin du Gard

Sunday, September 02, 2012

Morreu Emmanuel Nunes?
Gostaria tanto de o ter conhecido. Uma coisa sei, vi nos olhos de quem morre, há qualquer coisa de muito familiar nesse encontro com o fim - um relâmpago de reconhecimento e surpresa.



Bom dia domingo :)

Thursday, August 23, 2012


 "Voltemos à música. Os sons não têm uma significação que possa ordená-los; o seu agrupamento é uma operação espontânea da própria sensibilidade do músico. A sua notação abstracta sobre as folhas da partitura não nos transmite a significação dos sons, mas simplesmente a sua ordenação, matematicamente fixada na sua duração e na sua intensidade (...)
Assim, o músico cria um tempo fictício, contido, sem dúvida, no tempo normal, mas esteticamente independente dele; e tem o poder quase miraculoso de fixar definitivamente essa criação, esse tempo fictício. De maneira que, durante a duração da sua música, o músico obriga-nos a medir e a sentir o tempo segundo a duração dos seus próprios sentimentos: coloca-nos num tempo verdadeiro, porque é duração, e no entanto fictício. A realidade estética da música é, por isso, superior à de todas as artes; ela só é uma criação imediata da nossa alma.
Objectar-me-ão que a sua execução constitui um elemento intermediário entre ela e nós. - Não. A execução correcta de uma partitura é para a música o que é para um fresco, por exemplo, o lugar e a iluminação adequados. A música representa o tempo sem outro intermediário que não seja ela própria; é isso a sua existência formal, em especial para a arte dramática"


«Quando a música atinge o seu mais nobre poder, torna-se forma no espaço»
Friedrich Schiller

(...)

"E se, como para as outras obras de arte, a obra dramática é o resultado da modificação das relações (ver atrás a citação de Taine*) o que é incontestável, resta-nos encontrar em nós próprios o elemento modificador. Em nós próprios porque, fora disso, apresentar-se-ia preparado para fins estranhos à vida do nosso corpo. Vimos, precisamente, que é a nossa vida afectiva, interior, que dá aos nossos movimentos a sua duração e o seu carácter; sabemos também, que a música exprime essa vida de uma maneira, para nós, indubitável e que modifica profundamente essas durações e esse carácter. Possuímos nela um elemento profundamente emanado de nós próprios e de que aceitámos já e por definição a disciplina.Será, portanto, da música que nascerá a obra de arte viva "

* A obra de arte tem por objectivo manifestar qualquer carácter essencial e saliente, portanto qualquer ideia importante, mais claramente e mais completamente do que o fazem os objectos reais. Consegue-o empregando um conjunto de partes ligadas cujas relações ela modifica sistemáticamente

Adolphe Appia
A obra de arte viva

Tuesday, August 14, 2012

Sergiu Celibidache (28 June 1912 – 14 August 1996)


Não seria fácil para mim eleger uma obra, uma época. Não saberia preferir um compositor, um instrumento, uma escala ou um som. Mas admiro, acima de muitos, este maestro. A forma como estende o volume e multiplica o relevo. Como põe a descoberto inteiras cordilheiras submersas. Como lhes confere distâncias sem intervalo





Tuesday, August 07, 2012


Desço a Rua Augusta à hora em que o homem estátua dourado conta as moedas que juntou; hoje contava cento e quarenta e uma, quando passei

Que bom é desembocar depois das ruas, no arco. O espaço, que falta faz a Lisboa. Ou a sensação virá do som da hora? Em que o homem dourado, já lá atrás, conta as moedas

Sunday, August 05, 2012

Sunday, July 29, 2012


Já percebi que é preciso ter cuidado com o que se escreve porque, bastas vezes, se transforma em realidade. Que importa porquê?
Passei a telefonista, cultural, ou a um híbrido dessa espécie. Mais telefonista que cultural, que "esse fenómeno a que chamamos público" tem mais problemas práticos que pretensões a entendimentos arteológicos.

A minha bisavó era mestre-escola e para além, lia sortes nas cartas e lançava bênção às redes antes de entrarem no mar. Era bruxa. Se alguém era roubado ela era, não sei se a única, mas a primeira a saber quem cometera tamanha desfaçatez. Sabia até adivinhar onde escondiam o dinheiro roubado. Muitos a visitavam à procura de auxílio. Mas é claro, isso não era assunto que a minha avó, a filha, quisesse deixar transparecer. Nunca nós, bisnetos, em tal falávamos. E nunca o meu avô a pôde tolerar.

Quando a conheci vivia no quartinho da açoteia e nunca saía de lá. Ao lado da cama tinha o quadro e o giz. Na mão um ponteiro comprido para bater nas letras. Um enorme cabelo branco até ao fundo das costas e uns olhos muito muito azuis, com um brilho fundo e feroz. Foi ela que me apontou as letras e aí de mim que não as soubesse. Será que é por isso? Que tenho de ter cuidado com o que escrevo? :))

Wednesday, June 06, 2012








“Several times I went to the classes having not done my homework. At last, Myaskovsky strictly asked what was wrong with me. I said I had troubles and worries. The composer smiled:
– So, take chance of it. Write music. Don’t just be silent. It’s worst of all. You should always and everywhere think about music…”

Aram Khachaturian

Thursday, March 08, 2012

Estou cheia de febre e as patas do Abu são semicolcheias glissando o soalho. Corre a toda hora; párabu



-Vielimir Khlébnikov
" O GRILO

Aleteando com a ourografia
Das veias finíssimas,
O grilo
Enche o grill do ventre-silo
Com muitas gramas e talos da ribeira.
-- Pin, pin, pin! -- taramela o zinziber.

Oh, cisnencanto!
Oh, ilumínios!"


Thursday, February 16, 2012

"Sou um instrumentista popular. Tudo o que tenho da música erudita é apenas aquilo que me é exigido por uma cultura geral tão bem fundamentada quanto possível. (...) Se alguma coisa está por dentro da música, da poesia, da ciência, enfim, é a realidade. Se sinto a música de um lado e a realidade do outro, não tenho dúvidas: estou a viver uma ilusão, uma falsa música ou uma falsa realidade."