Wednesday, April 20, 2011

"Em cascabulhos incrustados nas bermas
do caminho azul, brancos papos de
gaivotas exibem-se aristocraticamente
como fiadas de pérolas nascidas à
borda de água (...)
Móóó!! Olhem lá para a frente!!
A uma centena de metros da bóia-da-
volta, quando uma liça luzidia saltava na
frente da popa, rodámos a cara e
emudecemos: era um clarão de fogo vivo
(...)
Emoção passada e tínhamos à proa um
mar lilás com as pardacentas nuvens que
vagueavam no céu.
Avental de amarelo oleado, remos nos
toledos, um «ilho», emboinada à vasco,
ala um tresmalho pairando em poeira
carminizada (…)
No canal, cabeços de morraça
substituíram, agora, por violáceo, o verde
envelhecido, onde, brancas bocas abertas,
as «cava-terras» ziguezagueiam
sumindo-se pela toca das lamas.
Encadeando, o sol leva-nos a olhar às duas
bateirinhas negras perdidas no
Mar Santo. Tão iguais que diríamos
gémeas.
Numa mudança ociosa, pintalgados nestas
aguarelas, carmins cintilantes
espraiam-se no céu numa convergência
para um rasto fluorescente. Mais umas
remadas e surgem elipses prateadas
enrugando-se com o sopro do vento.
Começou a cair um anoitecer a pejar-se de
estrelas (...)"

(Sem férias nem
fins-de-semana há mais de um ano)
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