Thursday, September 14, 2006

Chuva sol
chuva mole
dada
argila
molhada
gira sol
roda solar
mão de oleiro
a pingar
tinta sol
dada
à terra
lavrada

Saturday, September 09, 2006

Assisti ontem à estreia de Miss Daisy no auditório Eunice Muñoz em Oeiras.
“Driving Miss Daisy” estreou em Nova Iorque em 1987 e esteve três anos em cena, ganhando o prémio pulitzer de 88. Em 989 é feita a adaptação ao cinema pelo próprio autor – Alfred Uhry. Valeu-lhe o Oscar da “melhor adaptação”.
A tradução feita para Eunice Muñoz, Guilherme Filipe e Thiago Justino, é da responsabilidade de António Barahona. Com a minha escassa cultura, não o conhecia. Fiquei a saber que é poeta.
Não pretendo fazer aqui uma crítica ao espectáculo, aos actores, ao encenador ou aos técnicos. A um crítico, julgo eu, cabe “meter-se” dentro do criticado e tentar perceber porque escolheu ele fazer assim. Só o poderá fazer se conhecer a técnica utilizada na produção da obra. Estou a falar do crítico e não de quem opina. Acho muito bem que se opine, e que se critique.
Posso fazer uma crítica ao público, eu estava metida na plateia.
O público é parte de um espectáculo. Aquele público ontem era de estreia, ou seja, convites e muita gente do meio (fui com o meu irmão actor). Esperava eu que acompanhassem as tensões e descontracções do texto, os sentidos de humor claros e escuros; as modificações nas frases, que repetidas ao longo dos vinte e cinco anos em que decorre a acção, deixam de ter o sabor da ironia incisiva e graduam até ao hábito envelhecido, enriquecido.
As gargalhadas do público não graduaram; não sei porque escolheram rir assim.

Nunca tinha visto a Eunice Muñoz ao vivo. O seu gesto é extraordinário e oportuno. Os pés, as mãos, dizem as falas. Se as perde por vezes, é só na voz; o seu corpo mostra que não se perdeu.
O seu sorriso no fim mostrou o que todos ganhámos.


[Sempre que releio o que escrevo encontro “novas interpretações”; não faz sentido apagar o que escrevo, ou modificar de cada vez que cá venho. Ao ler isto, pareceu-me que estava a fazer uma critica velada ao texto da peça, e sendo assim, a armar-me em espertinha. Como se conhecesse a técnica utilizada na elaboração daquele, ou de outros textos. Não conheço. A fazer fé na Maria: “quem escreve escreve-se”, devo ter pretensões à esperteza.]

Monday, September 04, 2006

Estou na praia. A espuma é mais branca, muito mais branca. As ondas estendem baixinho e a lua no céu está quente, o vento sabe. O vento é quente e trás o som do mar (o cheiro não, estou na esplanada e cheira a pessoas depois de um dia de praia; a banho, champô e perfumes)
E não deve haver som igual em cada onda. Nenhuma se levanta da mesma forma. Começa aí, como se dançar emitisse som sustentado. Nenhuma prepara o ataque com a mesma força; não tem repouso o silêncio.
A cor está pintada, pouco dizível. É aproximada ao brilho de penas ónix, azuladas pela lua.