Monday, December 29, 2008

hipocampo e amígdala



A amígdala, um laboratório onde se memoriza emoção; o hipocampo, um laboratório onde se aprende memória. Elipse de confiança, um gráfico para interpretar resultados em programas interlaboratoriais.

Wednesday, December 24, 2008


Sem fitas bolas fios nos ramos, desejo a todos um Natal cheio de força como o mar contínuo. Boas Festas.

Monday, December 22, 2008

MENINOS NATAL UGANDA
Cantado com accent



MENINOS NATAL VIENA
Concentus Cantata

Wednesday, December 17, 2008

Olhe-se e veja-se, o blogue contraiu. Não será variação térmica, menos provável será ter encurtado as fibras musculares. Não fui eu que o encolhi, e se o fiz foi involuntário. Curioso, entrou em contracção e não faço a menor ideia se isto continua a encolher até um colapso, ou até que a Alice pare de crescer.
"The one incorporeal entrance into the higher world of knowledge which comprehends mankind but which mankind cannot comprehend."






Monday, December 15, 2008

Os componentes são imiscíveis mas é liga supercondutora (a corrente persiste indefinidamente), à temperatura ambiente.
Estados estranhos da matéria.


Wednesday, December 10, 2008

"A Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos humanos como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. "

Monday, December 08, 2008


Também ainda há nomes comuns em lugares próprios. Laranja nos céus em razão de ouro, termas estelares de temperatura e cor.

Friday, December 05, 2008

Comprei um pinheiro verde, de raiz. Que se põe na terra e é para regar todos os dias como o natal.
Não se imagina o contentamento das duas miúdas. Diz a pequena - posso dar-lhe um nome?
Mas é claro, sorri.
Pode ser nostrum?

Wednesday, November 26, 2008



Sei pai, que nasceste no Algarve, mas sempre me disseste que querias morrer no Alentejo, sozinho com um cão. Morreste aqui, comigo ao lado.
Sei, não, não sei, se aí há palavras, espero que não, quem descansaria?
Mas canto, canto talvez aí chegue, a música não é daqui.
Um abraço, parabéns pelos teus setenta anos.

Sunday, November 16, 2008

José correu, correu, entrou na casa, atravessou o pátio aos saltos para evitar pisar as toalhas e as vitualhas dispostas no chão e nas mesas baixinhas, chamou, Mãe, mãe, o que nos salva é termos cada um a nossa voz,

in 'O Evangelho segundo Jesus Cristo'

Parabéns José Saramago!

Tuesday, November 11, 2008

Sunday, November 02, 2008


A sobrinha pequenina faz um mês.




Os dedos pousados ainda são tão leves.

Monday, October 27, 2008

Há mil segredos,
A murmurar...
E altas canções,
Vindas no fresco Zéfiro do mar....

in Senhora da Noite, Teixeira de Pascoaes


À Chloris (Reynaldo Hahn)





Descobri-a há uns meses, aqui, através da blogosfera.
Aos meus ouvidos, é extraordinariamente bela. Sendo imitação ou homenagem ao período barroco, não deixa de ser um surpreendente fresco.



Friday, October 24, 2008

Parece mais fácil animare em deus e desanimar nos homens, já que tantas vezes a sua plasticidade mimética os transforma em seguidores de consciência alheia. Que difícil, é acreditar nos homens, que importante é fazê-lo. Deus não precisa.
Animo-me com este cinema desenhado pelas linhas das danças eslavas, a nº7, op.46, de Dvorak. De Bruno Bozzetto, uma caricatura do comportamento humano - a galinha da vizinha não será melhor que a minha - seguidismo ma non troppo.

Friday, October 17, 2008




Não há quem não saiba que não é uma soma de grandezas físicas, mesmo que estas se pudessem medir com exactidão.
Que não é porção misturada, que não é replicação transcrição e tradução de informação, que não é banco de dados de experiências dentro de conhecimento a priori.
Não há ser que não saiba que não sabe o que é.
O que é o homem da mão e da voz.

Wednesday, October 15, 2008

30 anos

Le Bon Dieu

Toi
Toi si tu étais le Bon Dieu
Tu ferais valser les vieux
Aux étoiles
Toi
Toi si tu étais le Bon Dieu
Tu allumerais des bals
Pour les gueux

Toi
Toi si tu étais le Bon Dieu
Tu ne serais pas économe
De ciel bleu
Mais
Tu n'es pas le Bon Dieu
Toi tu es beaucoup mieux
Tu es un homme

Tu es un homme
Tu es un homme.


Sunday, October 12, 2008

Não sei se por ser Domingo, se por ter acordado hoje com tanta chuva, se por se porque, apeteceu-me pôr aqui esta espécie de mantra.


Discover Gavin Bryars!


Ouvi isto uma primeira vez à entrada do Cabo da Roca, “Donde a Terra se acaba e o mar começa”. Assim, com aquela imensidão de mar muito maior que a orquestra, e por isso, com esta voz muitíssimo mais só.
Em casa, depois, pude perceber que se tratava de uma gravação recolhida à voz de um sem abrigo numa das ruas de Londres.

Parece o outro lado da história da menina dos fósforos. Cada mantra, cada frase repetida, é como um fósforo que a menina acende.
O velho sem abrigo também morreu na rua, sem ter chegado a ouvir a gravação e a remistura.

Friday, October 10, 2008

Estive anteontem no Teatro da Comuna a assistir à 'reestréia' da peça "Em Chamas", escrita por Charlotte Jones.

O texto entretece urdiduras poéticas verticais, a teia da tela, com o fio da trama em linhas de riso de bergson - “anestesia momentânea do coração”.
As frases sucedem-se com picos de grave ao agudo, sem respiração. Oscilam com a palavra e o palavrão, com a introspecção e a insignificância mordente. Agilidade é o que se pede aos actores. Na minha opinião conseguiram dizê-las sem que se ouvissem as mudanças de registo. Cabia aos espectadores escolher um registo, ou, o que me parece que foi conseguido, ouvir em estereofonia. Escrita ágil, sim, foi o que me pareceu. Quanto à grande forma, não me pareceu tão bem conseguida, muito mais frágil. As ligações entre épocas e personagens pouco consistentes, uma espécie de truque de dramaturgia, truque e não magia.
A tonalidade lembrou-me a da casa de Bernarda Alba, a dominante, o filme Agnes de Deus.

Informações aqui

Sunday, October 05, 2008

Nasceu-me mais uma sobrinha. É um ramo de algodão folheada a nácar.

Ponho aqui a voz do padrinho. Dizem que um alentejano nunca canta só, não imaginariam que viesse a cantar fado.


Discover Antonio Zambujo!


Bem-vinda menina rama, que fortaleças com madrepérola

Wednesday, October 01, 2008

Monday, September 29, 2008

"Non ho mai registrato perché non ho trovato nessuno in grado di farlo. Sono foto di una realtà che non può essere fotografata."

Celibidache


Friday, September 19, 2008

"Mãe, conta-me a história do Zé Aramago, do cão que bebia as lágrimas"
Pediu-me a filha mais nova enquanto ouvíamos na rádio, no carro, uma entrevista a José Saramago. À pergunta - como gostaria de ser lembrado? - Respondeu que como quem escreveu a cena da mulher do médico sentada com um cão que lhe bebe as lágrimas. Referia-se ao ensaio sobre a cegueira e acrescentou que assim como aquela mulher tentou salvar aquele grupo e se sente impotente, o cão se sente impotente com a sua tristeza e lhe bebe as lágrimas.
O Zé Aramago, José Saramago, a humanidade, a mulher e o cão; o Nobel está agora n"a página infinita de internet"

Monday, September 08, 2008

Da área ao volume, do quadrado ao cubo

Cubismo
Na forma facetada Braque, na fragmentada Stravinsky, estilhaçada Picasso.
Volumes decompondo planos.


"Quatre tendances se sont maintenant manifestées dans le cubisme tel que je l’ai écartelé. Dont, deux tendances parallèles et pures.
Le cubisme scientifique est l’une de ces tendances pures. C’est l’art de peindre des ensembles nouveaux avec des éléments empruntés, non à la réalité de vision, mais à la réalité de connaissance. Tout homme a le sentiment de cette réalité intérieure. Il n’est pas besoin d’être un homme cultivé pour concevoir, par exemple, une forme ronde. L’aspect géométrique qui a frappé si vivement ceux qui ont vu les premières toiles scientifiques venait de ce que la réalité essentielle y était rendue avec une grande pureté et que l’accident visuel et anecdotique en avait été éliminé.
Les peintres qui ressortissent à cet art sont : Picasso, dont l’art lumineux appartient encore à l’autre tendance pure du cubisme, Georges Braque, Metzinger, Albert Gleizes, Mlle Laurencin et Juan Gris.
Le cubisme physique, qui est l’art de peindre des ensembles nouveaux avec des éléments empruntés pour la plupart à la réalité de vision. Cet art ressortit cependant au cubisme par la discipline constructive. Il a un grand avenir comme peinture d’histoire. Son rôle social est bien marqué, mais ce n’est pas un art pur. On y confond le sujet avec les images.
Le peintre physicien qui a créé cette tendance est Le Fauconnier.
Le cubisme orphique est l’autre grande tendance de la peinture moderne. C’est l’art de peindre des ensembles nouveaux avec des éléments empruntés non à la réalité visuelle, mais entièrement créés par l’artiste et doués par lui d’une puissante réalité. Les œuvres des artistes orphiques doivent présenter simultanément un agrément esthétique pur, une construction qui tombe sous les sens et une signification sublime, c’est-à-dire le sujet. C’est de l’art pur.
La lumière des œuvres de Picasso contient cet art qu’invente de son côté Robert Delaunay et où s’efforcent aussi Fernand Léger, Francis Picabia et Marcel Duchamp.
Le cubisme instinctif, art de peindre des ensembles nouveaux empruntés non à la réalité visuelle, mais à celle que suggèrent à l’artiste, l’instinct et l’intuition, tend depuis longtemps à l’orphisme. Il manque aux artistes instinctifs la lucidité et une croyance artistique ; le cubisme instinctif comprend un très grand nombre d’artistes.
Issu de l’impressionnisme français ce mouvement s’étend maintenant sur toute l’Europe."

Apollinaire, les Peintres cubistes
Aquarelliste

À Mademoiselle Yvonne M...

Yvonne sérieuse au visage pâlot
A pris du papier blanc et des couleurs à l'eau
Puis rempli ses godets d'eau claire à la cuisine.
Yvonnette aujourd'hui veut peindre. Elle imagine
De quoi serait capable un peintre de sept ans.
Ferait-elle un portrait ? Il faudrait trop de temps
Et puis la ressemblance est un point difficile
À saisir, il vaut mieux peindre de l'immobile
Et parmi l'immobile inclus dans sa raison
Yvonnette a fait choix d'une belle maison
Et la peint toute une heure en enfant douce et sage.
Derrière la maison s'étend un paysage
Paisible comme un front pensif d'enfant heureux,
Un paysage vert avec des monts ocreux.
Or plus haut que le toit d'un rouge de blessure
Monte un ciel de cinabre où nul jour ne s'azure.
Quand j'étais tout petit aux cheveux longs rêvant,
Quand je stellais le ciel de mes ballons d'enfant,
Je peignais comme toi, ma mignonne Yvonnette,
Des paysages verts avec la maisonnette,
Mais au lieu d'un ciel triste et jamais azuré
J'ai peint toujours le ciel très bleu comme le vrai.

Guillaume Apollinaire (1880 - 1918)

Monday, August 11, 2008

Pé quadrado por quadrado, cabriolas, piruetas e chicotadas






Fouetté
"Num movimento relativamente brusco, os músculos da perna de apoio contraem-se de forma a impulsionar o corpo na direcção superior, levando à extensão dessa mesma perna. É nesta altura que o pé sofre uma flexão plantar severa que, com o calçado adequado, resulta no em trabalho de pontas. Simultaneamente, a perna de trabalho, sem se mover do plano frontal, flecte até que o pé de trabalho, em flexão plantar, atinja a altura do joelho. O ângulo formado depende portanto da altura de perna do executor. Ao atingir esta posição, o executor deve rodar para o lado da perna de trabalho (todo o corpo roda segundo o eixo longitudinal), cerca de 315º – ou seja, quase uma volta completa. Ao atingir os 315º, a perna de trabalho deve rodar segundo o eixo transversal até ser atingida a flexão do membro inferior como um todo, rodado para o plano frontal, altura em que a rotação de 360 é completada. Nesta altura, o pé de apoio deve retornar à posição de preparação (rodado de 90º lateralmente segundo o eixo longitudinal, estando alinhado segundo o plano frontal), e deve repetir o plié (na perna de apoio), de forma a amortecer a queda."

Rute M. Baptista. Disciplina de biomecânica do movimento.

Wednesday, July 23, 2008

(...)
"ou seja, gato vivo mais gato morto juntamente com a pessoa com a percepção do gato vivo mais a pessoa com a percepção do gato morto, mais gato vivo menos gato morto juntamente com a pessoa que tem a percepção do gato vivo menos a pessoa com a percepção do gato morto. É apenas um pouco de álgebra."

O grande, o pequeno e a mente humana. Roger Penrose. Gradiva

Monday, July 07, 2008


Não é só o balcão do Salão Nobre do Conservatório que está a cair. Por cima desta clarabóia, no corredor em frente à sala 231, caiu uma "não acaba a primavera". Acudam ao verão, façamos uma petição. Eu sei, com coisas assim não se brinca. Mas não pude deixar de reparar (e tirar a fotografia com o telemóvel)


Thursday, July 03, 2008

"Poética da música"

"A obra de Wagner corresponde a uma tendência que não é, por assim dizer, uma desordem, mas uma tendência que tenta compensar uma falta de ordem. O princípio da melodia infinita ilustra perfeitamente esta tendência. É a conveniência perpétua duma música que nunca teve mais razões para principiar do que para acabar. A melodia eterna surge-nos assim como um insulto à dignidade e à própria função da melodia, que, como dissemos, é a intonação musical duma frase cadenciada.
Sob a influência de Wagner, as leis que defendem a vida do canto foram violadas e a música perdeu o seu sorriso melódico.
Pág 85(.)

Resumindo: O que é importante para a ordenação lúcida do trabalho - para a sua cristalização - é que todos os elementos dionisíacos que põem a imaginação de um artista em movimento e fazem revigorar a seiva da vida têm de ser devidamente dominados antes que nos intoxiquem, e devem, finalmente ser feitos para se submeterem à lei: Apolo exige-o.
Pág.108(..)

Parece que a unidade que procuramos é forjada sem o sabermos e estabelece-se dentro dos limites que impomos sobre o nosso trabalho. Quanto a mim, se a minha própria tendência me leva a procurar a sensação em toda a sua frescura, rejeitando o entusiasmo, o lugar-comum - o ilusório, numa palavra -, estou, no entanto, convencido de que variando constantemente a procura se acaba apenas em fútil curiosidade. É por isso que acho inútil e perigoso aperfeiçoar em demasia as técnicas da descoberta.
Uma curiosidade que é atraída por todas as coisas revela um desejo pela tranquilidade na multiplicidade. Ora este desejo nunca pode encontrar uma verdadeira nutrição na variedade interminável.
Ao desenvolvê-la, adquirimos apenas uma falsa fome, uma falsa sede: são de facto falsas porque nada as pode saciar. Quanto mais natural e mais saudável é lutar para uma realidade única, limitada, do que para uma divisão interminável."
Pág.184(...)

Poética da música. Igor Stravinsky. Publicações Dom Quixote.

Friday, June 27, 2008

Gosto de ir para a praia de barco, como se vivesse no mar. Mas não; vai-se de um cais ao outro. O de Olhão, hoje, cheirava a viveiros e a vento baixo das salinas, a ferro naufragado e a ponte para o mar. Um braço do atlântico com têmpera mediterrânea.
Estou há uns dias aqui, ainda não está muita gente. As ilhas estão cheias de areia sem sombras.
A Deserta, o Farol e os Hangares, a Culatra ou a Armona; todas elas têm a ria no cais e o mar nas traseiras. À noite estão repletas de estrelas, passear no pontão da Ilha do Farol por cima do Oceano é como caminhar na via lenta da História, na via rápida da luz.

Friday, June 20, 2008

Pus-me a olhar para o arquivo do blogue, e primeiro que mais 2005, isso foi em dois mil e cinco, há três anos.
(22), (30), (18), (4) entradas registadas nestes anos.

Reformular-me, achei que era isso que faria, escrevendo. Que tinha ideias arrumadas sem ter retido o percurso, que tinha preguiça mental, escrever ajudaria.
Totó, escrever ajudaria.
Que agora tenho ideias desarrumadas, percursos retidos, mas vários para a mesma ideia, desvios desvario mental; imaginação fixa.

Não, não é um discurso de "porque é que eu tenho um blogue?", é - porque tenho um blogue com tão poucas entradas? Escrevi menos para menos ao longo do tempo.
Mas fiz um curso de escrita criativa! Não me saí muito bem, fui a pior, para ser mais correcta. Aquilo era expressão plástica escrita; escreve sem erres, reconta sem és, utiliza cem palavras. A três palavras dadas, acrescenta cinco tuas, e mais três dadas, e mais cinco, dez, vá lá, dez tuas para acabar. Que tenha sentido, a história. Chiça, e isto com limite de tempo. Hei-de lá voltar.

Friday, June 13, 2008

A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.




Tuesday, April 29, 2008

Dança sobre óleo

"O espírito da dança não tem cor"

" Dançam sem música, pisando no profundo silêncio de África como numa carpete.O seu movimento é lento, precavido, não as ouviríamos ainda que dançassem entre sinos. São de sombra. De uma sombra ardente e dura, já para sempre colada ao metal recto dos seios, à força de pedra de todos os membros. Alimentam a dança com vozes internas, gastrálgicas, e o ritmo torna-se leve, de frenesi. Os calcanhares atingem o chão com pesado fulgor: impele-as uma gravitação sem sentido, um ditado irascível. Os seus corpos negros brilham de suor, como móveis molhados; as mãos erguendo-se, sacodem o som dos braceletes "

Pablo Neruda. Nasci para nascer.

Monday, April 28, 2008

Li muito cedo, ainda meio a dormir. Aos doze anos já tinha lido quase toda a biblioteca que tinha em casa. Colecções como os livros de bolso da Europa-América, a Dois Mundos, ou a Básica da Verbo. Outros avulsos, soltos pelas estantes. Eram muitos, para minha sorte encontrei neles centenas de palavras que não conhecia, mas que reconhecia como certas. Estranho fenómeno, este de reconhecer um nome de uma planta ou de uma estrela, de um tecido ou de uma rocha.
Cores das florestas e dos frutos das aves ou da pele encontrava-as nos nomes.
Nomes, nomes de madeiras, de utensílios, das estações em cultivo, dos panos de velas, dos cabos e correntes do mar, das terras, das pedras. Quando não os reconhecia sabia que ali escrito não tinha estado ninguém.

Se eu soubesse nomear tudo não sobrava nada, como se tivesse em mim ligações ao mínimo múltiplo raiz.
As coisas não se importam :) Falar é humano.

Sunday, April 13, 2008


SAMUEL BECKETT

13 de Abril 1906 - 22 de Dezembro 1989

VLADIMIR Vamos esperar para ver o que é que ele diz.

ESTRAGON Quem?

VLADIMIR O Godot.

ESTRAGON Boa ideia.

VLADIMIR Vamos esperar para saber exactamente em que pé estamos.

ESTRAGON Por outro lado talvez não fosse mau malhar o ferro enquanto está quente.

VLADIMIR Estou com curiosidade para saber o que ele tem para nos oferecer. Depois, ou pegamos ou largamos.

ESTRAGON O que é que nós lhe pedimos exactamente?

VLADIMIR Não estavas lá?

ESTRAGON Não devia estar a ouvir.

VLADIMIR Oh... nada de concreto.

ESTRAGON Uma espécie de oração.

VLADIMIR Precisamente.

ESTRAGON Uma súplica vaga.

VLADIMIR Exactamente.

Samuel Beckett. À espera de Godot; Livros Cotovia, pág 27

Reposição da peça "Começar a Acabar" na sala estúdio do Teatro Nacional D. Maria II até dia 1 de Junho. João Lagarto encena e interpreta. Sinopse e biopse aqui : http://www.teatro-dmaria.pt/Temporada/detalhe.aspx?idc=845

Hoje em vez de Beckett fui ver Barker, "O ladrador do teatro"

"Tio Vânia, escrito em 1991, é livremente inspirado na conhecida obra de Tchecov. Na peça de Barker, as personagens libertam-se de um criador que as sufoca. Reclamam direito de exercer a sua vontade, subtraindo-se desta forma à paralisia a que Tchecov as condenou. A fatalidade do seu destino humano, presente no texto original do dramaturgo russo, é completamente despedaçada na versão de Barker"