Friday, August 04, 2006

Guerra – luta entre nações ou partidos, campanha, arte militar, hostilidades.

A guerra projecta-se no político, ultrapassa o domínio do individual.
Será assim?

“(...) o horror que nos convence de que o que ali se passou constitui um crime contra a humanidade, não reside no facto de, apesar de partilharem a humanidade com as suas vítimas, os assassinos os terem tratado como piolhos. Isso é demasiado abstracto. O horror consiste nos assassinos se terem recusado a imaginar-se no lugar das suas vítimas, ao contrário de todas as outras pessoas. Por outras palavras, fecharam os corações. O coração é a sede de uma faculdade, a compreensão, que nos permite partilhar, por vezes, a essência de outrem (...) Em cada dia há um novo holocausto e, no entanto, tanto quanto me consigo aperceber, a nossa essência moral permanece intocada. Não nos sentimos maculados.”
J. M. Coetzee

No domínio do político, cito Aristóteles

“Pertence à sabedoria, quer de cada homem tomado individualmente, quer de todo o Estado em geral, o dirigir as acções e a conduta para o melhor fim. Ora vários pensam que mandar nos semelhantes, se se faz de uma forma despótica, é uma grande injustiça; se se faz duma forma civilizada, não é uma injustiça, mas somente um obstáculo para a sua tranquilidade (...) Um legislador deve gravar profundamente no espírito do seu povo que aquilo que é bom para cada um em particular é igualmente bom para o Estado; que não é conveniente dedicar-se aos exercícios militares com a intenção de sujeitar aqueles que o não merecem; que tais exercícios só devem ter por finalidade o defender-se a si próprios da escravidão e até o tornar-se úteis aos vencidos. A finalidade não é dominar todo o mundo, mas unicamente os que não são capazes de bem usar da sua liberdade e que mereceram a escravidão por causa da sua malvadez”
(tratado da política, Aristóteles)

A “malvadez” lembra o “eixo do mal”.
A guerra - o mal – os maus.
O mundo não reproduz o conto de fadas onde os maus sofrem justos castigos e os bons vivem felizes para sempre. No mundo da humanidade os “maus” seguem e respeitam as ordens dos seus legisladores, e os “bons” não vivem felizes com as ordens dos “escravos da malvadez”.
Nunca estive num país islâmico, (quando eu era pequena, a minha mãe dizia-me que o meu trisavô era um príncipe árabe; se lhe perguntar hoje é bem capaz de reafirmar; a imaginação ocupa-lhe a história) não sei como sentem as suas leis, se as vivem ou se simplesmente as seguem. Sei, ou fazem-me saber, que a grande maioria dos muçulmanos não são extremistas, fanáticos. Sinto no entanto, que o Ocidente ficaria mais tranquilo se os infiéis se convertessem, não ao cristianismo, mas à democracia, ao Estado de direito, ao secularismo.

Já há um tempo chegou-me aqui a casa um livro pelo correio, cujo destinatário era o Eduardo Prado Coelho. Deduzo que aqui morou, e não sabendo eu como o devolver, sendo um livro, paciência, desculpe lá ó Eduardo, fiquei-lhe com o livro. É uma compilação das intervenções de alguns oradores num curso livre de História Contemporânea, cujo tema foi, a globalização e democracia.
Uma das oradoras, Teresa Patrício Gouveia, afirma que em meados do séc. XXI, a civilização ocidental representará apenas 1 a 5% da população mundial (devo dizer que este número me espanta, não sei se terá algum fundamento real). Mas seja qual for a percentagem – “talvez tenhamos, sabiamente, que aceitar, nas sociedades, a conflitualidade; de compreender que os homens não querem todos as mesmas coisas; que os valores que adoptámos estão eles mesmos em conflito” Isaiah Berlin ( Four essays on liberty)

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