Friday, January 05, 2007

Como quando
há força partida
e escrevesse

"Mas agora perguntar-me-ás como te será possível destruir a consciência nua do teu próprio ser (...)
A capacidade de que falo nada mais é do que uma profunda e intensa dor espiritual (...)
Todos têm as suas mágoas, mas quem sente maior desgosto é quem está consciente de existir. Qualquer outro sofrimento, comparado com a consciência de existir, é como uma brincadeira de crianças (...)
E quem nunca conheceu esta dor, bem se pode condoer deveras, pois ainda não experimentou a dor perfeita."
A Nuvem do Não-Saber (anónimo do séc. XIV)

Perfeita?!
A Dona Tristeza é consciência de existir, e é possibilidade de destruir o ser consciente que existe.

"Uma tal dor capacita a alma para receber aquela alegria em que o homem perde totalmente a consciência do seu próprio ser"
(idem)

Ora, em que é que consciência ficamos?
A ignorância, a tristeza ao encontrar, a alegria de a perder


Como quando
há força partida
e escrevesse

perfeita a dor
como se
a força partida
tristeza
escrevesse
poetas
poemas
do amor

partidos
como se perdidos
da perfeita dor

1 comment:

maria said...

Como quando
à força partida
escrevesse
...
escrevi eu, trocando as voltas à intenção e mexendo, tão pouquinho, nas letras!
Como quando, numa viagem iniciada contra vontade (ou à força partida, como queiram), escrevesse de si e de quem teimaria, para sempre, ser... sendo!

:)
dgp... a consciência da existência tem andado a cansar-me tanto... e, é engraçado, chegada aqui apetece-me logo partir n'outra andança, n'outra viagem, n'outra ponta, até, do pensamento! e (re)caminho!

... é bom vir até cá! ...
;)