Tuesday, March 19, 2013


“Meu pai tinha sandálias de vento
 só agora o sei.
 (...)
 e no entanto víamo-lo sempre
 ali plantado de imobilidade absorta
 (...)
Meu pai era um homem com as nostalgias
do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a
                                                    [víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs
e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias
miraculosamente leves soltas imaginosas
indo de acaso em acaso de astro em astro
eram de vento as suas sandálias fabulosas
levando-o aonde mais ninguém poderia chegar (...)

Fernando Namora,  'Nome Para Uma Casa'









Meu pai não tinha sandálias de vento
Visitava-o toda a Terra enquanto ele ria para os céus
Recebia tudo o que acontecera num enorme lugar que tinha dentro do peito; do tudo, não muito, saía algum antes de escurecer, outro mais, acabava por pernoitar e a grande parte, prolongava a estadia.
Tinha tanto lá dentro, onde todos podiam chegar
     

   

2 comments:

jrd said...

Ter ou ter tido um Pai e chegar até ele, já é tanto.

dulcehelenaguerreiro said...

:) Parabéns para si, que também deve ser pai

Fiquei com a herança. Ficamos todos com uma 'casa' que tem o que aconteceu. E há que manter o espantoso, a descoberta, a alegria; e ter portas e janelas abertas à coragem

abraço