Monday, April 08, 2013


Poema de agradecimento à corja

Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar

de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.

Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.

Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.

Obrigada por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.

E pelo vosso vergonhoso descaramento.

Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.

E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

Joaquim Pessoa

2 comments:

jrd said...

Um grande Poema fortíssimo e actuante.
Atrevo-me a estender o agradecimento aos que os puseram lá...

dulcehelenaguerreiro said...

A minha dúvida é mesmo saber o que querem as pessoas.
Tem tempo ou paciência para ler as caixas de comentários das notícias nos jornais online? É uma ferramenta que não tínhamos para poder vislumbrar o que fervilha nas cabeças. Confesso que por vezes nem sei se o comentário é o que dizem ou se estão a ironizar, tal é o absurdo da opinião ou da argumentação.

Quanto a mim, já não posso ver a corja servir-se e repetir, sempre da mesma panela, que não é a deles (sabem lá eles produzir ou cozinhar algo comestível)