Ontem fui ao teatro. Um dos meus irmãos é actor. Lá em casa, algumas vezes fiquei de castigo por ele ter nascido encantactor. Todos sabiam lá na casa , mas ele é que não sabia, por isso ultrapassava-se. Chorava de mansinho, num crescendo que caía no chão. Até eu acreditava que pudessem ter sido duendes a comer os bombons que tinham desaparecido da caixa debaixo da cama dos pais. O embrulho todo rasgado; alguém tinha que ficar de castigo. E os bombons eram para a dona Aida, a condessa. Não sei se era condessa, baronesa, ou marquesa, mas vivia num palacete que tinha uma sala, que tinha um piano, que tinha uma cauda. Quando a visitávamos, encontravámo-la sempre no jardim a podar as rosas. Lanchávamos no jardim e cantávamos “ainsi font, font, font...”. Comíamos scones com doce de morango, bebíamos chá, e como numa história da Condessa de Ségur, éramos uns amores de crianças durante duas horas.
O teatro, ontem.
A peça não me disse nada, por isso não tenho nada a dizer.
O meu irmão ultrapassa-se agora em palco. Já sabe que é actor, e continua encantador.
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